A Cagada

Este conto é uma versão revisada de outro que foi relembrado de cabeça, já que, o primeiro e original foi perdido…

***

Minha mãe parou o carro em frente ao prédio onde eu fazia o curso de inglês. Desci e fui direto para o barzinho que havia dentro da escola.
Naquele dia, teria prova e queria estar de barriga cheia para pensar bastante. Para não ficar com o estômago roncando, logo pedi.

-Ôh Mané! Vê para mim uma vitamina completa.

(Detalhe; completa era a que vinha com tudo: mamão, abacate, banana, aveia, aveia em farelo, muito achocolatado em pó e um litro e meio de leite para dissolver).

Tomei a vitamina gigante de um aó gole e, após soltar o tradicional arroto, imediatamente senti o peso no cú indicando a vontade de cagar.

Discretamente, dei uma chegada na porta do banheiro. Aliás, o único funcionando no prédio de cinco ou seis andares, e vi, que a porta dele estava fechada.

-Bosta! Deve ter alguém aí dentro.
Voltei para o bar.
Lá, eu aguardaria o sr. Quem Quer Que Fosse sair e, em seguida, daria o meu sossegado cagão.
Tocou naquele instante a campainha indicando que a aula iria começar e, como era dia de prova, ninguém deveria entrar atrasado na sala.
Não restou outra alternativa.
Teria de adiar temporariamente a minha cagada.
Fui para a sala de aula, me sentei com algum cuidado e procurei pensar em coisas agradáveis.
Demorou algum tempinho, como sempre ocorre nestas situações desesperadoras, e a prova começou.
Nem consegui me concentrar direito.
Fiz alguns rabiscos ininteligíveis e entreguei para a professora.
-Você tem que esperar meia hora para entregar a prova. -Ela disse. – Antes desse espaço de tempo não pode sair da sala de aula sob hipótese alguma.
Era um absurdo, mas, não quis reclamar, pois, se passasse muito nervoso, poderia acabar cagando alí mesmo.
Concentrei-me o máximo que pude e fiquei a meia hora alí dentro.
Minha vingança foi soltar alguns peidos silenciosos e muito fedidos pouco antes de sair…
Fora da sala, fui correndo para o maldito banheiro e, lamentavelmente, encontrei uma placa na porta:
“FECHADO PARA REFORMAS – Usar o do zelador”
Como desesperado, procurei o banheiro do zelador que nem no prédio ficava, mas já de longe, tive o desprazer de ouvir o chuveiro dele funcionando.
Havia alguem tomando banho lá dentro.
Procurando me manter calmo,tentei encontrar um telefone público, já que, na época, os celulares ainda não existiam, para ligar em casa e pedir que alguém viesse me tirar daquela situação delicada.

Ocorre que, no mesmo momento, havia uma menina fofocando no único disponível pelas imediações.

Diante disso, resolvi ir para casa sem perda de tempo.
Na rua, vendo coisas diferentes, talvez a vontade de cagar fosse embora ou, quem sabe, eu arrumasse até um banheiro para usar.

Fui andando o mais lenta e tranqüilamente possível, só que, conforme caminhava, o peso no cú aumentava e o desespero também. Resolvi entrar num boteco da vida.
Lá eu teria de dar o meu cagão.
Não tinha mais jeito.

Para não chamar atenção indo direto para o banheiro, pedi uma água e dei alguns goles nela.

Fui então até o banheiro.
Estava trancado!
Voltei ao balcão e pedi a chave para o português do bar.
Este, com a tradicional discrição dos donos de boteco, chamou o seu assistente aos gritos:
-Ôu Mané! Pega a chave que o gajo aqui quer ir ao banheiro!
O cara me entregou a chave e eu não perdi tempo.
Logo me fechei lá dentro.
Mas, infelizmente, a coisa estava nojenta demais.
Parecia um pântano.
Tinha lagartixas, aranhas e uma nuvem de mosquitos sobre o vaso que estava todo mijado .
Nesse momento senti um alívio no cú.
Teria de segurar um pouco mais pois, ali não dava nem para tirar a calça sob o risco de pegar dengue.
Paguei a água e continuei a caminhada.
Depois daquela, pude andar um pouco mais rápido até o ponto de ônibus.
Meu alívio porém, durou pouco.
No ponto, a vontade de cagar voltou mais forte.
Dava impressão de que a bosta estava pendurada por um fiozinho muito tênue. Meu ônibus, para me alegrar um pouco, foi chegando.
Fiz sinal para ele mas, o motorista passou batido e foi embora.
Bateu o desespero e a coisa ficou pior ainda, mas, eu tinha que agüentar.
Naquela hora minha transpiração aumentou uma barbaridade.
Procurei me concentrar em outras coisas para suportar melhor aquela agonia. Outro ônibus apareceu e, dessa vez eu fiz sinal no meio da rua, bem na frente dele. O motorista não teria como não ver e fugir.
Subi e logo procurei um lugar para sentar.
Casualmente, achei um, ao lado da mulher mais linda que já vi em toda a minha vida.
As coisas mais estranhas nunca acontecem quando se está legal.
Prova disso, foi que a mina começou a puxar papo comigo:
-Você está pálido! Tudo bem?
-Claro… Claro… Claro…
-Sabe… Eu achei você uma gracinha…
-É… Humm.. obrigado…
Ela me deu um beijo no rosto e me deu um cartão que coloquei no bolso traseiro da calça.
Em seguida ela se levantou e saiu desfilando:
-Liga para mim…
Acenei e dei um sorriso pálido para ela, mas, a vontade de cagar continuou me torturando.
Quando chegou o meu ponto, com muito custo consegui acionar a campainha de solicitação de parada.

Saí do ônibus tomando cuidado nos degraus.
Alí, um passo em falso, e a merda despencaria sem aviso.
Caminhava lentamente para casa, parecia até um velhinho.
Na descida que dava na rua da minha casa, tratei de me controlar.
Estava num ponto onde tudo era possível, inclusive, encontrar aquela simpaticíssima professora de piano que dava aluas de piano para a minha mãe, que ficou me amarrando com o lero lero dela durante alguns minutos cruciais.

Quando estava na frente da minha casa dando graças a Deus por ter conseguido aquela prodigiosa façanha, deparei-me com o gerente do super-mercado:

-Meu amigo! Sua mãe fez compras e esqueceu um pacote. Não quer pegar agora? Eu estou saindo e, depois, os empregados não vão saber te indicar onde está sua mercadoria.

Não tinha como recusar.
O mercado ficava exatamente em frente de casa. Bastava atravessar a rua.
Fui até lá. Peguei o pacote, sem é claro escapar de tomar alguma canseirinha antes de sair.
Finalmente cheguei em casa.
Porém, ainda tive de esperar me abrirem a porta, já que, ela estava com uma chave do outro lado da fechadura que, me impedia de destrancá-la.
Lá dentro, ainda tive o desprazer de encontrar os banheiros ocupados.
Fiquei roendo as unhas até um deles ser liberado.
Aí, entrei lá correndo.
Mas quando ia fechando a porta lembrei:
Tinha de pegar um gibi ou jornal para dar aquele triunfal e sublime cagão.
Fui até o quarto e rapidamente escolhi qualquer um.
Voltei para o banheiro já na página certa.
Tranquei a porta, sentei no vaso, me concentrei na leitura e, finalmente abri as comportas para dar vasão ao rio de merda que estava chegando. Saiu aquele peido aliviador e então senti um tremendo alívio… Mas esperem!
Alguma coisa estava errada!

Na pressa, esqueci de tirar a calça e enchi ela de bosta! Nem o papel com o número do telefone da mulher bonita escapou da sujeirada!

 

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